A Holanda sai da Copa invicta, mas demonstrou um futebol tão pálido quanto a camisa usada neste ano, avaliou um comentarista —esportivo, não de moda— durante a semana passada. Seu colega no programa gostou da provocação e respondeu que a camisa podia não ser a melhor, mas que o agasalho na entrada em campo para o hino era o mais garboso. O primeiro concordou.
Os gols, jogadas, craques e tragédias ainda vão reverberar durante algum tempo mesmo após o torneio. E com um Mundial em dezembro, de repente a Qatar Fashion Month (ou Copa do Mundo mesmo) pode ter virado uma boa vitrine para um presente natalino.
Sair um dia na rua e não cruzar com ninguém com uma camisa do Real Madrid, do Barcelona, do Paris Saint-Germain ou de algum time inglês é quase um desafio. Mas em tempos de Mundial, essas equipes ganham a concorrência de várias seleções —e nem precisa ser um torcedor.
As fornecedora dos quatro semifinalistas do Mundial do Qatar provavelmente já estão cantando vitória. Isso porque o fato de ter chegado à semifinal garantiu dois desfiles extras para o top 4 —mesmo os perdedores da semifinal voltam a campo para a disputa do terceiro lugar. No total, o quarteto garantiu sete desfiles nas passarelas qatarianas, com transmissões que ficam entre as maiores audiências do planeta —de acordo com a Fifa, só a final de 2018 teve audiência média de 517 milhões de pessoas no globo.
Mesmo eliminada, a Holanda com sua camisa laranja nunca passa despercebida. E neste ano foi tema de debate nas redes sociais, com muitos internautas reclamando da peça que parecia um “tie-dye monocromático”. “Parece tie-dye, mas não é, tentaram imitar a pele de um leão. Ficou mais amarelada, mas ficou bonita”, diz Cláudia Garcia Vicentini, professora do bacharelado de têxtil e moda da USP.
Mas nem tudo que é visto pela televisão nos jogos está à venda por aqui, como os belos agasalhos das seleções internacionais, incluindo o holandês.
Olhando os uniformes das seleções em sites, a professora avalia que as camisas número 2 (o segundo uniforme) sempre são as mais criativas. “As opções número 1 são mais sóbrias e têm mais as cores das bandeiras mais fortes, uma forma de fácil identificação. As camisas número 2 dão mais liberdade para as marcas criarem um pouco mais, mas não muito. O futebol é um esporte bem tradicional.”
O Brasil foi uma das poucas seleções a ter a chance de usar os dois uniformes. Mesmo presente na derrota contra Camarões, a camisa azul agradou. “Do ponto de vista de estampa e de design, é mais bonita que a camisa número 1. Você vê mais a estampa da onça nas mangas. Na 1 não se vê muito bem a estampa”, avalia Cláudia.
Para Grazi Cavalcanti, professora do projeto social Ponto da Moda, parceria com a Faculdade Santa Marcelina, os elementos gráficos na estamparia foram a tendência no desfile do Qatar, com destaque também para o Brasil. “No uniforme 2 há uma complexidade de design de superfície, a mistura de motivos gráficos com o animal print e o degradê produzido com cores diferentes. Um uniforme com propósito e complexidade nas técnicas têxteis.”
Quem causou uma certa estranheza com o figurino reserva foi a também eliminada Espanha com sua camisa azul-clara com uma estampa meio ondulada (batizada de calçadão do Rio na internet). “Acho que o padrão ficou meio apagadinho, o contraste poderia ter sido mais bem explorado”, diz Claudia, que gostou da camisa pré-jogo e da jaqueta corta-vento usada no hino (nenhuma delas está à venda no site da Adidas, fornecedora do time).
Vestir a camisa da seleção, ou dar de presente, neste fim de ano requer um certo investimento. As camisas da seleção brasileira têm duas versões na loja online da Nike. A jogador, com o mesmo tecido tecnológico usado por Neymar, Vinícius Junior e cia., sai por R$ 699,99. A torcedor, com design idêntico, mas sem os avanços têxteis, por R$ 349,99.
Camisas de outras seleções da fornecedora americana, que teve 13 esquadrões no Qatar, estão por R$ 399,99, incluindo Holanda e França —depois dos uniformes do Brasil, de acordo com a assessoria da Nike, as camisas de Holanda, Inglaterra, Portugal e Croácia são as mais procuradas pelos consumidores.
A marca alemã Adidas vende em seu site camisas de sete seleções no Mundial, como a da Alemanha, da Argentina (ambas por R$ 349,99) ou da Espanha (um pouco mais barata, por R$ 299,99, incluindo a azul-clara).
Outra fornecedora alemã, a Puma tem camisas da semifinalista Marrocos, a queridinha do Qatar, e de seleções como Uruguai e Gana, todas no mesmo valor, R$ 369,90.