A Argentina buscará, no próximo domingo (18), ser o primeiro time sul-americano campeão mundial de futebol em dez anos. O último foi o Corinthians.
Lionel Messi conduz sua seleção na tentativa de interromper o domínio estabelecido pelos europeus nas últimas quatro edições da quadrienal Copa do Mundo. No anual Mundial de Clubes, já são nove triunfos seguidos dos representantes do velho continente.
A mais recente vitória de uma equipe da América do Sul no torneio completa uma década nesta sexta-feira. Em 16 de dezembro de 2012, o Corinthians, arquitetado por Tite, fez 1 a 0 no Chelsea, gol marcado pelo peruano Paolo Guerrero, e foi bi.
O técnico ainda é amado por quase toda a torcida alvinegra. Quem pôs a bola na rede, não.
Se não conseguiu repetir um sucesso do tamanho do obtido há dez anos, o treinador estreitou seus laços com o clube e conquistou novos títulos em preto e branco. Contratado pela seleção brasileira em 2016, passou desde então a ouvir o recorrente apelo “volta, Tite“.
Recentemente, escutou esse pedido do próprio presidente da agremiação, Duilio Monteiro Alves. Após a saída de Vítor Pereira, o dirigente checou a disponibilidade do gaúcho, que, já havia anunciado, deixaria a formação nacional independentemente do resultado na Copa do Mundo.
“Eu não nego para ninguém que tem um cara com quem gostaria de trabalhar, com quem trabalhei, que é o Tite. Mas ele deixou muito claro que não está pensando em trabalhar no Brasil agora”, afirmou o cartola, na última quarta (14).
Duilio está certo de que a justificativa seja verdadeira. A de Pereira, não era.
O português tinha proposta para renovar seu contrato com o Corinthians até o fim de 2023. Recusou, dizendo que precisava retornar a seu país e dar atenção à sogra, enferma. Em seguida, acertou com o Flamengo –que até a publicação deste texto tinha sua sede no Rio de Janeiro, não em Lisboa.
“O cara mentiu. Mas o Corinthians é muito maior do que todos e segue sua vida”, declarou o presidente.
Algo parecido com o que foi dito em 2015, quando Guerrero trocou justamente o Corinthians pelo Flamengo. O peruano não citou nenhum parente doente, mas quebrou a promessa feita repetidas vezes de que jamais defenderia outro clube brasileiro.
A garantia foi dada inicialmente em uma entrevista à Gazeta Esportiva, em janeiro de 2013, ainda no calor da então recente conquista do Mundial. Depois, até que partisse rumo ao Rio dois anos e meio mais tarde, tornou a dizer, em múltiplas ocasiões: “No Brasil só tenho um time”.
“E ele cumpriu a promessa! Não jogou em mais nenhum time do Brasil”, diverte-se o alvinegro Mauricio Poyatos, 45. “Não jogou nada no Flamengo, não jogou nada no Inter. E não jogou nada no Avaí”, gargalha o balconista.
Paolo defendeu o Flamengo de 2015 a 2018 e esteve no Internacional de 2019 a 2021. Em 2022, aos 38 anos, vestiu a camisa do Avaí, rebaixado no Campeonato Brasileiro. Participou de dez partidas, quatro como titular, sem nenhum gol.
“O Corinthians acreditou no Guerrero, que nem era tão conhecido no Brasil e tinha potencial para crescer aqui. Mas ele se vendeu e hoje em dia nem é mais lembrado”, afirma a tesoureira Priscila Clementino de Almeida, 35.
“Falar que o Guerrero não foi peça importante na conquista do título seria mentira, mas ele não foi para o Japão sozinho. Isso ficou claro principalmente pelo trabalho que o Tite fez com o elenco, motivou todos ali”, acrescenta a torcedora.
O centroavante marcou os dois gols do Corinthians no campeonato. De cabeça, definiu a difícil vitória por 1 a 0 sobre o Al Ahly, do Egito, nas semifinais, em Toyota. Também de cabeça, de maneira chorada, suada e alvinegríssima, estabeleceu o placar do triunfo sobre o inglês Chelsea, na decisão, em Yokohama, outro 1 a 0.
Idolatrado pela Fiel até o meio de 2015, ele não foi bem recebido nas visitas que fez ao estádio de Itaquera depois disso. Em 2016, em vitória preta e branca por 4 a 0, com dois gols de Ángel Romero, a torcida cantou: “Doutor, eu não me engano, o paraguaio é melhor que o peruano”.
O clube tem adotado a praxe de desejar feliz aniversário ao velho camisa 9, em suas páginas na internet, a cada 1º de janeiro. Há os que aplaudem, mas a reação mais comum são xingamentos como “Guerrero mercenário” e perguntas como “ídolo de quem?”.
O ódio até arrefeceu com o tempo –e com a cada vez menor relevância do atacante. Hoje, o sentimento está mais perto de um desdém. Existe uma parcela da torcida que aposta em um reconhecimento maior ao jogador quando ele estiver aposentado.
Mas a celebração dos dez anos do bi não se dá em um clima de amor ao artilheiro. O carinho é dedicado especialmente a Cássio, eleito o melhor atleta do Mundial de 2012. O goleiro continua vestindo a camisa do Corinthians, assim como Fábio Santos e Paulinho.
Outros dos campeões mantiveram relação próxima com o clube. Alessandro é dirigente. Danilo é técnico dos juniores. Emerson já teve um cargo no departamento de futebol. E Tite, pedem os corintianos, ainda terá de novo.
“Se o Corinthians tivesse uma cara naquela era de ouro do time, seria o Tite. Prezava o coletivo, nunca era por um só. A jogada do gol contra o Chelsea passa por todos os jogadores, incluindo o Cássio, até terminar na cabeçada do Guerrero”, lembra o publicitário Ronaldo Lopes Junior, 27.
“Volta, Tite”, clamam Priscila, Duilio e tantos outros.