Em uma seleção que há anos aposta na formação de elencos multiétnicos, com jogadores filhos ou netos de migrantes que foram para a Europa em busca de uma vida melhor, Hugo Lloris, 35, é uma exceção na equipe francesa.
Atleta que mais vezes vestiu a camisa de seu país, com 144 jogos, o capitão francês é filho de Luc Lloris, um banqueiro que fez fortuna em Monte Carlo, e de Christine Lloris, advogada que por anos trabalhou em um escritório inglês também com sede no Principado de Mônaco.
Os dois se conheceram gerindo investimentos estrangeiros no pequeno principado, mas logo se mudaram para Nice, onde a família se estabeleceu.
Antes de escolher o futebol como carreira, o goleiro que levantou a taça da Copa do Mundo em 2018 viveu na infância um dilema entre os campos e as quadras. Ele e o irmão gostavam de jogar tênis. E vencer o torneio de Roland Garros era um de seus sonhos.
Assim como embaixo das traves, o atual goleiro do Tottenham também era bom com a raquete, com propostas para jogar tênis no clube Des Combes, mas optou pelo futebol.
No início, precisou convencer seus pais. Ainda garoto, mas já como goleiro, ele atuava em um clube de bairro chamado Cedac, pelo qual se destacou a ponto de chamar a atenção do Nice. Quando o gigante francês quis contratá-lo, seus pais chegaram a vetar o negócio, pois a prioridade dele deveria ser os estudos.
Foram muitas conversas até eles serem convencidos. Prevaleceu não só a vontade do jovem, como a insistência do Nice pelo talento dele. Mas houve uma condição: os estudos não poderiam ser deixados de lado.
“Sou disciplinado e devo isso aos meus pais. Estudava de manhã e treinava à tarde. E no fim de semana tinha jogo, mas também revisão e aulas de idiomas que meus pais queriam que eu fizesse”, explicou Lloris.
Depois de três anos vestindo a camisa do Nice, de 2005 a 2008, ele se transferiu para o Lyon, à época, o clube mais poderoso do país. No mesmo ano, foi chamado pela primeira vez para defender a seleção francesa.
Foi quando começou a acumular marcas históricas. Atualmente, ele é o atleta que mais vezes defendeu a França, com 144 jogos, número que ele alcançou nesta edição da Copa do Mundo, ao deixar para trás o ex-defensor Lilian Thuram, que somou 142 ao longo de sua carreira.
Lloris empatou em número de jogos com o ex-atleta na partida contra a Inglaterra, pelas quartas de final. Foi um jogo especial para o goleiro, que chegou ao Mundial apontado como o ponto fraco da seleção.
A crítica vinha sobretudo da imprensa britânica, que acompanha diariamente o goleiro no Tottenham. Na véspera do confronto, o próprio goleiro disse que o confronto “teria um sabor especial”. Pelo menos para os franceses, foi bom.
Ele fez três grandes defesas ao longo da partida, uma delas num chute de Harry Kane, e ainda viu o atacante inglês isolar uma cobrança de pênalti na etapa final. O duelo terminou com 2 a 1 a favor da França.
Na fase seguinte, ao entrar em campo contra o time de Marrocos, ele completou 19 aparições em Copas do Mundo, empatando com Manuel Neuer, goleiro da Alemanha, campeão em 2014. Embaixo das traves, ninguém disputou mais jogos do que os dois.
Neste domingo (18), assim que começar a grande decisão contra a Argentina, no estádio Lusail, às 12h (de Brasília), o francês já vai se isolar nesta lista.
Mas ele ainda quer mais. Hugo Lloris terá a chance de ser tornar o primeiro capitão a levantar duas vezes a taça da Copa do Mundo.
Em 22 edições até aqui, nunca um capitão conseguiu repetir o gesto eternizado por nomes como Cafu, Dunga, Maradona, Matthäus, Carlos Alberto e Beckenbauer.
Será, ainda, uma boa chance para ele apagar a imagem ruim, embora menos lembrada, que ele deixou na decisão de 2018, na Rússia, onde mesmo com a França campeã sobre a Croácia, ele ficou marcado por uma falha importante no segundo gol dos croatas.
O goleiro tentou driblar Mandzukic, perdeu a bola e levou um dos gols mais pitorescos de uma final de Copa do Mundo. Sorte dele que a França já havia feito seus quatro gols e o duelo terminou 4 a 2.
Contra a Argentina, uma nova falha, poderá custará mais caro.