De calça creme e chapéu azul, Antonela Roccuzzo sai do estádio de Lusail a caminhar ao lado dos filhos, acompanhada por uma amiga e um guarda-costas.
“¿Qué mirás, boba?”, pergunta, olhando para a frente, enquanto é filmada por um telefone celular.
A frase havia entrado para o folclore da Copa do Mundo do Qatar minutos antes, dita pelo seu marido, Lionel Messi, após a vitória da Argentina sobre a Holanda nos pênaltis. O “¿Qué mirás, bobo?”, algo como “O que está olhando, idiota?” foi para o atacante rival Woghorst após a tensa partida das quartas de final.
Avessa a entrevistas, Antonela, 34, é parte da carreira de Messi, 35. É impossível falar da trajetória do jogador sete vezes eleito melhor do mundo e finalista da Copa de 2022 sem incluir sua mulher na narrativa.
É uma relação que pode afetar o desempenho do camisa 10 e capitão da seleção no maior palco do futebol.
Na Rússia, em 2018, funcionários da AFA (Associação Argentina de Futebol) debatiam, estarrecidos no aeroporto de Nijni Novgorod, o que ocorria com Messi. Ele parecia abatido, desinteressado e quase deprimido em alguns momentos.
A seleção havia sido derrotada no dia anterior pela Croácia por 3 a 0 e estava a um passo da eliminação na fase de grupos.
O consenso entre eles, naquele momento, era que o craque deixara de ser si mesmo após ter perdido pênalti na estreia contra a Islândia.
Um dirigente da AFA disse à Folha depois daquele Mundial que o problema era outro: Messi não estava bem com Antonela, e aquilo o afetou de maneira que a comissão técnica não esperava.
Ausente nos dois primeiros jogos na Rússia, ela foi a São Petersburgo para o decisivo confronto com a Nigéria. Seu marido fez um dos mais belos gols daquele torneio, e a seleção se classificou. Seria eliminada nas oitavas, diante da França.
O atacante perdeu pênalti no Mundial do Qatar. Foi na segunda partida, contra o México. Anotou um golaço minutos mais tarde e foi o melhor jogador da competição desde então.
Acompanhada dos filhos Thiago, 10, Mateo, 7, e Ciro, 4, Antonela esteve em todas os jogos argentinos no Oriente Médio. Na semifinal diante da Croácia, foi filmada rezando, a olhar para o chão, antes de o camisa 10 bater o pênalti que abriria o caminho para equipe chegar à decisão contra a França, neste domingo (18), em Lusail.
Eles se conheceram quando Messi tinha nove anos. Ela é prima de Lucas Scaglia, 35, hoje em dia aposentado do futebol, companheiro de Lionel nas categorias de base do Newell’s Old Boys, em Rosário, terra natal de ambos.
“Nós fazíamos festas de crianças na nossa casa. Todo o mundo dançava e se divertia, menos Leo. Ele ficava num canto, parado, olhando o tempo inteiro para Antonela”, contou Scaglia à Folha em 2017.
Segundo o ex-jogador, os dois tiveram mais contato quando Messi passou alguns dias de férias na casa da família de Scaglia em Mar del Plata. Antonela estava presente. É uma lenda nunca confirmada por nenhum deles que o hoje craque escrevia cartas para a garota dizendo que um dia se casaria com ela.
Eles se afastaram em 2000, quando, aos 13 anos, Messi se mudou para Barcelona e começou a trajetória para ser atleta profissional. Antonela namorou outro rapaz de Rosário.
O reencontro se deu em maio de 2005, quando a garota se deprimiu com a perda de uma grande amiga em um acidente de carro em Rosário. Messi estava na cidade, de férias, e entrou em contato com ela para dar apoio moral. Começaram a namorar pouco depois. Um relacionamento mais à distância nos primeiros anos, mas a hoje esposa foi cada vez mais vezes para a Espanha.
Em entrevista para o site do Barcelona em 2009, ele disse pela primeira vez que tinha “uma noiva”. Ela se mudou para a cidade no ano seguinte.
Messi e Antonela se casaram em 30 de junho de 2017, em Rosário, e poderão viver felizes para sempre se a Argentina for campeã mundial no domingo, no último jogo de Lionel em Mundiais.