Antes do início da partida contra a Coreia do Sul, na última segunda-feira (5), Vinicius Junior esticava as pernas em um alongamento quando Neymar se aproximou para dar um último conselho.
O atacante do Real Madrid disse nesta quarta-feira (7) que o camisa 10, referência técnica da seleção brasileira, faz isso com todos. Mas naquele momento, a segundos do pontapé inicial das oitavas de final da Copa do Mundo, foi apenas com ele.
Vinicius Junior não esconde a idolatria que sente por Neymar. Foi quem lhe disse, antes da viagem ao Qatar, o que significava atuar em um Mundial. Os dois terão o papel de levar o Brasil à semifinal com uma vitória sobre a Croácia, nesta sexta-feira (9), no estádio Cidade da Educação, em Doha.
Se Neymar, 30, realmente cumprir sua promessa e não disputar mais o torneio da Fifa, o maior candidato a substituí-lo como craque da equipe será Vinicius, 21, negociado com a Espanha aos 18 e autor do gol do título da Champions League de 2022.
“É a realização de um sonho [jogar a Copa ao lado de Neymar], né? Eu acompanhei toda a carreira do Ney. Ele sempre foi o meu maior ídolo. Sempre quis estar perto dele, fazer as coisas que ele fazia em campo. Com o passar do tempo, foi virando um amigo e hoje é um irmão que me dá muitas dicas. Todo jogo, antes de começar, ele tira toda a responsabilidade de cima de mim. Estar junto com ele é viver um sonho que nem todos podem viver”, disse.
A proximidade faz com que Vinicius Junior, também pela inexperiência e juventude, diga coisa que não deveria. Pelo menos aos olhos da comissão técnica. Foi ele quem revelou, após a vitória para a Suíça, na fase de grupos, que Neymar havia tido febre enquanto se recuperava de lesão no tornozelo. Era um dos casos que apareceram no elenco, situação tratada com discrição.
Apesar de ter sido o atacante mais importante e incisivo da seleção nas jogadas no mano a mano contra o marcador, Vinicius Junior não tem dúvidas em apontar que Neymar será o maior responsável se o hexa chegar na final do próximo dia 18.
“Eu tive a sorte de jogar com meu ídolo. Ele me dá todo o suporte de que preciso. Seguir o caminho dele é importante, é jogador que está próximo de Pelé em gols e, se Deus quiser, vai trazer o hexa para nós”, afirmou.
Junior se refere aos 76 gols anotados por Neymar com a camisa da seleção. Pelé é o líder do ranking de artilheiros, com 77, pelas estatísticas da Fifa. A entidade usa apenas os números de partidas oficiais, ignorando 18 anotados pelo Rei em amistosos.
Contra a Coreia do Sul, Vinicius fez seu primeiro gol em Copas do Mundo. Da linha de ataque titular escalada por Tite, só Raphinha não marcou, algo que o irritou ao ser lembrado do fato em entrevistas após as partidas.
De sorriso fácil, Vinicius Junior disse que seu rival de liga espanhola não precisa se preocupar porque vai acontecer. Raphinha atua pelo Barcelona, arqui-inimigo do Real Madrid.
Foi o mesmo sorriso que o garoto abriu quando um gato subiu na bancada em que era concedida a entrevista, retirado pelo assessor de imprensa da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Antes criticado por problemas na definição, o atacante revelado pelo Flamengo fez dos gols uma parte importante de seu jogo. Ele também incorporou e aperfeiçoou outras jogadas no repertório, como o passe de trivela. Neste caso, o professor foi Luka Modric, colega de Real Madrid e capitão da seleção croata, adversária desta sexta.
“Modric sempre me ensinou bastante e continua me ensinando no dia a dia, faz de tudo para eu continuar evoluindo. Eu o uso como espelho, um cara de 37 anos jogando no nível dele é algo raro. Ele me ensinou esse passe de três dedos. A cada dia venho melhorando para ter um leque maior de jogadas”, disse.
Vinicius não é econômico em elogios. Também falou com devoção de Thiago Silva, de Casemiro, de Cristiano Ronaldo, da amizade com Lucas Paquetá… Mas nada se compara a Neymar, o ídolo com o qual divide agora o ataque da seleção brasileira no Mundial.
“Ele me falou que a Copa do Mundo é diferente de qualquer outra competição. Agora que estou vivendo, sei quanto a Copa é importante para o nosso país. Ele me contou isso, e sempre levei comigo. Não sabia o tamanho, mas quando tocou o hino vi ainda mais a diferença em jogar pelo Brasil, o país que tem mais títulos. Fico feliz de estar aqui representando cada brasileiro e jogando com meu ídolo.”
Apenas para não dizer que sorri o tempo inteiro, ele não quis comentar sobre a possibilidade de romper contrato com a Nike, que o patrocina desde a adolescência.