Pouco tempo depois da vitória do Japão por 2 a 1 sobre a Alemanha, pelo Grupo E da Copa do Mundo, nesta quarta (23), o fluxo nas ruas do bairro da Liberdade era intenso.
Mas não para comemorar a zebra histórica. Mesmo com o movimento constante nas calçadas, bares permaneceram vazios, alguns até fechados. Nada de decoração especial nas ruas: no máximo, algumas camisas do Japão figuravam entre uniformes da seleção brasileira nas calçadas.
Segundo um ambulante de 65 anos, as camisas do Japão vendem bastante. Elas são réplicas, feitas por um designer e estampada com mangás, desenhos tradicionais do país asiático, vendidas a R$ 15 cada.
Nos restaurantes, o foco também não estava na partida. Segundo a garçonete de um estabelecimento da rua Galvão Bueno, “ninguém percebeu nada”.
Ricardo Hayato Okuno, 55, dono de um restaurante na rua Tomás Gonzaga, disse que comemorou a vitória do Japão, mas sozinho. Ele é brasileiro, filho de pai japonês, e disse que ficou feliz em dobro: pelo Japão, sua segunda pátria, e pelo Brasil, em vingança pelo 7 a 1. “O samurai arrebentou”, disse o empresário.
Na mesma rua, por volta das 13h30, os donos de um bar, que estava fechado, começavam a levantar a porta. Tânia Ishii, 53, disse que a expectativa de bom público estava depositada no jogo do Brasil, na quinta (24).
Seu marido, Kenneth Ishii, 51, é descendente de japoneses e, pouco antes da partida, nem sabia do confronto. Quando descobriu o resultado, ficou surpreso. O casal conta que os japoneses da região não se animam com a Copa, a não ser que o time passe para as oitavas: “Nesse caso, encheria o bar. Mas na fase de grupos é difícil, ainda mais nesse horário”. A partida começou às 10h e foi o segundo jogo do dia.
Segundo Ricardo Hayato, as empresas japonesas não costumam dar folga em dia de jogos da Copa. O empresário completa que, no Japão, os esportes mais populares são beisebol, golfe e pesca. O futebol acaba ficando em segundo plano.
Se o placar pegou muita gente de surpresa, mesmo no bairro mais japonês de São Paulo, para ao menos uma pessoa ele não foi nada inesperado. Takashi Okuno, pai de Hayato, além celebrar a vitória da seleção de seu país, vibrou por ter acertado o improvável resultado no bolão.
O jogo
Na partida, a tetracampeã Alemanha saiu na frente e com gol de Gündoğan, de pênalti. No segundo tempo, ele quase ampliou, mas acertou a trave.
Antes de virar do avesso, o duelo teve, ainda, dois gols anulados por impedimento, um do japonês Maeda e outro do alemão Kai Havertz, aos 8 e aos 49 minutos da etapa inicial, respectivamente.
Depois do intervalo, os alemães continuaram apertando os japoneses, mas não acharam mais o caminho do gol. E ainda começaram a deixar espaços na defesa. Aos 30 minutos, Ritsu Doan deixou tudo igual. Oito minutos depois, foi a vez de Takuma Asano marcar um bonito gol, para decretar a virada.