Seis dos oito classificados às quartas de final já disputaram a finalíssima da Copa do Mundo pelo menos uma vez. Brasil x Croácia, Argentina x Holanda, França x Inglaterra são os duelos dos tradicionais. Todos tiveram resultados inesperados, como a derrota da seleção brasileira para Camarões e a dos argentinos para a Arábia Saudita.
Portugal nunca chegou à decisão. O Marrocos é a única zebra.
Foi simbólica a vitória nos pênaltis sobre a Espanha, cinco meses após o massacre de Melilla, cidade autônoma espanhola no norte da África. Em 24 de junho, pelo menos 37 migrantes marroquinos foram mortos. O governo de Madri é acusado de financiar tropas de Rabat para dificultar a entrada de africanos na Europa.
Os marroquinos do norte odeiam mais os espanhóis do que os franceses. Nós, jornalistas, adoramos dizer que Copa do Mundo não é pátria de chuteiras. Não é.
Mas, em alguns casos, não cabe subestimar o sentimento de nação. A Croácia é um desses exemplos, porque declarou sua independência depois de longa guerra, apenas 30 anos atrás.
O lugar onde Modric morava na infância foi ocupado por tropas sérvias. Está na sua na memória e em seu coração.
O Marrocos é o quarto representante da África nas quartas de final e o primeiro árabe. Hakimi nasceu em Madri, cresceu nas divisões de base do Real e decidiu não jogar pela Espanha: “Senti que não era meu lugar. A maneira como eu vivia em casa era diferente, com cultura muçulmana”.
No Qatar, o Marrocos representa os árabes. Uma das maiores festas pela classificação contra a Espanha aconteceu em Melilla.
Não parece fácil o duelo Portugal x Marrocos, e o técnico português, Fernando Santos, alertou sobre isso. Há marroquinos em Doha apostando que seu país chegará às semifinais. Portugal é favorito.
Não custa brincar: da última vez que o pessoal do Marrocos resolveu invadir a Península Ibérica, passou por lá mais de 500 anos. Agora, precisam só de cinco dias e, depois, enfrentar a França, a quem eles realmente odeiam.
Se Portugal avançar, chegará à sua terceira semifinal como o único possível finalista inédito. Com Eusébio, em 1966, chegou em terceiro lugar. Com Cristiano Ronaldo, em 2006, em quarto.
O Brasil esteve na decisão sete vezes, a Argentina em cinco, França e Holanda em três, Inglaterra e Croácia em uma.
Dos oito candidatos restantes, só Argentina, Brasil e Inglaterra tiveram mais posse de bola em todas as partidas. Nesta Copa, isso parece ser, ao mesmo tempo, demonstração de força e risco de cair numa arapuca. Se você quer seu time no ataque, impositivo, ele precisa empurrar o adversário para trás —e isso se faz com seus jogadores na parte da frente do campo. Mas, aqui em Doha, só 37% das partidas são vencidas por quem controla o adversário trocando passes. A Espanha foi quem mais fez isso. Está fora.
Chutar a gol dá mais certo. Contando os empates, 44% das vezes quem ganha é quem finaliza mais. Dos classificados, o Brasil é o melhor nesse quesito. A Alemanha era a primeira colocada nesse critério e também está eliminada.
Nesta Copa, não dá para provar nenhuma teoria com base nas histórias e nas estatísticas. Nem a tese de que seria a Copa das zebras sobreviveu.
A não ser que o Marrocos resolva invadir a Península Ibérica, como os mouros fizeram em 711 d.C.
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